terça-feira, 30 de março de 2010

SITE DA COIMUNIDADE


Criado há um ano o site (www.bairroellery.com.br) é um campo rico com as mais diversas atrações e expressões do movimento popular do bairro e das atividades cotidianas vividas por muitos de seus moradores. O site apresenta informações sobre assuntos diversos como: história do bairro, entidades culturais e sociais do movimento popular, notícias locais e nacionais, fotografias, etc. Uma constatação importante é uma coletividade no processo de criação do site. Essa coletividade não expressa a ação de todos os moradores do bairro, mas já é possível perceber que o site não representa uma iniciativa individual.
Dentre os colaboradores encontramos Agnaldo José, principal articulador do site, ex- morador do bairro e militante do movimento popular e do PC do B, Raul Campos, morador do bairro, professor de história e participante do movimento Comunidade Reunida Hip Hop, Clarice Araújo, esposa de Raul, estudante de economia doméstica e participante da ONG feminista Centro Socorro Abreu, entidade que defende os direitos da mulher no bairro, Daniel Almeida morador do bairro e webdesigner que mantém tecnicamente o site e Tobias Marques Sampaio que é cronista, escritor e também morador do bairro.
No link que apresenta a história do bairro encontramos informações densas como: a história do nome das ruas que foi levantada por Tobias Sampaio. Nesse mesmo link encontramos uma catalogação de todos os equipamentos do bairro, desde quantidade de praças, instituições religiosas até os estabelecimentos comerciais. Este item será renovado em breve, pois uma nova pesquisa foi realizada em 2006 por 10 jovens que participaram de um mapeamento da comunidade. Os jovens são estudantes das três escolas públicas localizadas na comunidade.
O site possui uma agenda atualizada com informações sobre reuniões e assembléias que acontecem no bairro, divulgação de eventos, de campanhas de vacinação etc. A Agenda contém a programação mensal dos acontecimentos mais relevantes na comunidade. Apresenta ainda as galerias de fotos dos eventos realizados no bairro: bloco de carnaval (Bloco Sai na Marra), quadrilhas juninas, mobilizações realizada durante a copa de 2006 etc. Com relação à interação com o receptor e com o bairro em si, o site é extremamente rico. Tem diversos mecanismos que permitem esse contato, como por exemplo: enquetes com assuntos que dizem respeito ao bairro, possibilidade de criação de conta de e-mail e Orkut. O espaço apresenta ainda a possibilidade de envio de comentários sobre os artigos e fotos.
Um fato que chama nossa atenção é a preferência dos idealizadores do uso da palavra sítio e não site. Vemos isso como uma valorização da Língua Portuguesa, como é explicado no próprio site. Não há, porém uma exploração desta opção com artigos explicando essa escolha. Apesar da valorização da Língua, a utilização da palavra sítio pode inclusive causar confusão ao receptor não acostumado com essa nomenclatura. Entretanto, não nos detivemos ainda na verificação desse detalhe.
E importante ressaltar que o site tem o compromisso com a informação, com a propagação da cultura, com melhorias do bairro e conseqüentemente da vida dos moradores. Numa análise mais profunda constatamos que o site do Bairro Ellery é uma ferramenta importante como difusor da memória e auto-imagem da comunidade e de seus moradores. Nesse espaço virtual o bairro aparece em movimento contínuo, as matérias destacam as qualidades positivas das pessoas, as atividades culturais e a memória das conquistas concretizadas através das lutas da associação comunitária do bairro. O link que melhor expressa essa dimensão positiva da imagem da comunidade é aquele construído com o trabalho de elaboração de textos e ensaios fotográficos realizados pelos próprios moradores.
A memória, além de está presente no link Conheça Nosso Bairro e apresentada também no tópico “História do Bairro”, mostra a trajetória de organização do bairro em seus 50 anos (1940 a 2007). Aparece ainda em muitas matérias, sendo usada como suporte para projetar a auto-imagem da comunidade. Observamos que os fatos ocorridos no passado ganham relevância na construção da auto-imagem, tanto do Bairro como de seus moradores. Essa estratégia parece nova e tem sido descoberta ao longo dos cinqüenta anos de história e mobilização da comunidade.
As matérias mais positivas são conquistadas pelos moradores que procuram e provocam a mídia para divulgar esses atos. Algumas matérias divulgadas são oriundas da cobertura que a mídia comercial local faz dos eventos promovidos pelo Governo do Estado ou pela Prefeitura.
As matérias, produzidas pelo site, também enfocam atletas da comunidade, atividades de mobilização e a fala daqueles que participam desses eventos. Nesses casos, encontramos uma atenção especial dada a quaisquer atividades que envolvam jovens, idosos ou grupos culturais e que ressaltem a imagem da comunidade como inserida num contexto social, político e cultural produtivo.
Como podemos perceber, a diversidade de sujeitos tomada na apresentação do bairro valoriza um único elemento o destaque positivo da comunidade. Desse modo, a auto- imagem vai sendo construída. Os elementos mais comuns são a cultura, a mobilização, o destaque pessoal dos moradores e a atuação coletiva das entidades mobilizadas existentes nessa comunidade. O destaque pessoal é uma novidade na trajetória dos movimentos sociais, entretanto, ele não aparece como um propósito individualista. Os sujeitos em suas trajetórias individuais são ressaltados para engrandecer a imagem da comunidade e o cenário social onde todos habitam. Sendo assim, a auto-imagem não é construída apenas com a valorização das ações coletivas.
A fotografia é outro recurso fundamental na construção do site e na expressão dessa auto-imagem. Ela aparece na ilustração das matérias dando ênfase a descrição dos acontecimentos que envolvem grupos e pessoas. Fotografias de passeatas, pessoas em ação nas reuniões, moradores em destaque legitimam e concretizam a imagem informada no texto das matérias.
O recurso fotográfico aparece também como elemento chamativo para os internautas visitarem o site. Imagens dos brincantes do Bloco Sai na Marra, que desfila durante os quatro sábados que antecedem o carnaval, das apresentações de quadrilhas, das festas e movimentos que ocorrem no bairro, são dispostas no site com o objetivo de atrair o internauta.
As fotografias que retratam crimes ou conflitos violentos aparecem somente no link “Bairro Ellery na Mídia”, cobertura feita pela mídia comercial. Aqui se repete o mesmo processo que constatamos na elaboração das notícias sobre o bairro nas quais é priorizada a valorização da auto-imagem da comunidade e de seus personagens sociais.
O fato de o site colocar a disposição do internauta a apresentação da cobertura que a mídia comercial faz da comunidade deixa claro que o objetivo não é idealizar a comunidade, mas destacar as atividades produtivas realizadas pelos sujeitos que habitam nesses contextos.
A mídia comunitária sempre exerceu esse papel impulsionador de uma imagem elevada das comunidades. No site do Bairro Ellery essa representação é intensa, pois observamos que na mídia eletrônica a dinâmica da produção é mais recorrente. O mesmo não acontecia com os jornais comunitários impressos na década de oitenta.
O custo dos jornais impressos não permitia essa dinamicidade e muito menos o uso da fotografia como elemento chave na composição dessa imagem. A pesquisa tem constatado e refletido até o momento, que o site do Bairro Ellery surge como novo instrumento de comunicação para dar continuidade e visibilidade ao movimento popular e ao cenário urbano, no entanto, o site não aparece como instrumento de comunicação isolado da trajetória anterior das mobilizações ou da criação de outros meios de comunicação para contribuir na construção da auto-imagem desse movimento.
O fechamento da rádio criou certo vazio e nós tentamos buscar no contexto atual, observando o que tinha espaço, observando as nossas possibilidades de criar um novo instrumento que pudesse contribuir de outra forma porque o site tem outra linguagem, Mas uma dificuldade que sempre tivemos aqui foi de se comunicar com a juventude, por exemplo, o site ele consegue fazer isso. Ele ta numa fase inicial, embrionária que tem muito pela frente. Ele tem facilidades e dificuldades.
Enfim, o site não ressalta apenas elementos coletivos da luta popular. Isso ocorre porque a visibilidade buscada não é centralizada na imagem do movimento, mas na visibilidade do bairro, de seus moradores na construção de sua alto-imagem positiva e na reconstrução de sua história.

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