terça-feira, 30 de março de 2010

POESIA DO BAIRRO ELLERY


Eu te saúdo bairro dos meus encantos
De simplicidade e autonomia;
Aqui meio desconfiado cheguei,
Estudando as pessoas,
Observando as ruas,
Tomando nota dos acontecimentos,
Gente da gente foi a conclusão.
Rasos passos dados
Pelas ruas de graça e simbolismo
Percebi a localização privilegiada
Tudo parece cativar quem arrisca o bairro;
Aqui por sobre o canal
Deixo o rastro sob a temperatura de 30, 40;
O vento vem logo a seguir
E à sombra de figos e benjamins
Vivo o silencio nada mutante desta terra.
Se aqui vim parar
Compartilho do que é óbvio,
Coligo com gente simples,
Desfrutando de amizades
Com a profusão de um estadista.
Estamos a quatro quilômetros do centro
Próximo também da modernidade
E vivendo bem quem bem quer viver
A paz de um bairro simples.
Nos arrabaldes da comunidade ellerense
Co-irmãos tradicionais se arrastam,
Mas nosso bairro progride,
Se liberta do anonimato
E a alcunha de vila se escapa.
Desconversando ou discutindo
Me misturo com gente de toda fé,
Freqüento os bares de nossa gente
E paro para lançar palavras
Sobre assunto meio complexo.
Quando necessário se faz expor defesa
E também seus critérios,
Para unir-me em torno dos valores
Não esqueço dos amigos,
Muito menos dos familiares
E, claro, do bairro que me acolheu,
Então lutar sem rebeldia pelos direitos
Já que os deveres se concretizam;
O povo não se acha só protegido
Mas consciente de que é um por todos
E todos por um, sempre...
Tobias Marques Sampaio
Poeta e escritor

FINAL DOS ANOS 40


O loteamento Parque Themóteo dá origem as duas principais ruas da então Vila Ellery: as ruas Major Veríssimo e Gilberto Câmara. Nas proximidades da Av. Sargento Hermínio, na época apenas uma vereda que ligava os bairros Monte Castelo, Cachoeirinha e Monte Picu, hoje Presidente Kennedy, passando nas Quatro Bocas, hoje Olavo Bilac, as famílias começavam a fixar residência, aí também havia a Hospedaria Getúlio Vargas, construída para atender aos retirantes que chegavam do interior do estado fugindo da seca, mas acabou servindo mesmo para alojar os desabrigados das cheias da época.
O açude João Lopes era represado na, hoje, Av. Sargento Hermínio nas terras de Odete Pacheco, próximo ao forno crematório (hoje garagem da Expresso Guanabara), onde se colocava o lixo coletado em Fortaleza, um açude que transbordava alagando os bairros Monte Castelo, Floresta, Brasil Oiticica (parte do Jacarecanga) e adjacências. Nesta década, e em outras depois, o açude serviu de lazer para as pessoas da região, para banhos, pescaria em anzol e landuá, e para as lavagens de roupa realizadas pelas “lavadeiras das cacimbas do João Lopes”, que deixavam as roupas estendidas às margens do açude, sem preocupação de que fossem roubadas, a água do açude era límpida servindo para o consumo das pessoas.
As ruas do bairro, hoje asfaltadas, eram veredas, muitas em meio ao mato, numa paisagem com muitos cajueiros, azeitoneiras e pitombeiras. Nesta época as terras da região estavam nas mãos de poucos proprietários: no sentido oeste para leste havia primeiro as terras da família Ellery, que deram nome à “vila” anterior ao bairro, e ao próprio bairro, seguidas pelas terras de Odete Pacheco, e pelas terras de Juvenal de Carvalho, proprietário da Maternidade Juvenal de Carvalho, próximo à av. Bezerra de Menezes.

1946 - O açude João Lopes arromba, levando prejuízo aos moradores da região. Notícia do jornal O POVO de 3 de maio de 1948 dizia que na Vila Santa Maria (próximo ao bairro Monte Castelo) ‘‘nada menos que 200 casas foram inundadas entrando pelos quintais e saindo pela porta da rua a água levada de roldão, encaixerando galinhas, gatos, cachorros, porcos e outros animais domésticos.’’. Isto numa manhã em que Fortaleza amanheceu inundada: “Famílias inteiras’’ saíam de casa procurando lugares mais elevados. ‘‘Grupos de pessoas com enxadas, latas, vasilhames, pás, etc., a abrirem regos para dar vazão a água.’’.
1949 - 200 soldados do Exército foram acionados nos primeiros socorros das vítimas das inundações provocadas pelo açude João Lopes, ''talvez tenha sido a maior chuva caída em Fortaleza nos últimos dez anos'', anunciava O POVO em 6 de maio de 1949 sobre a tempestade iniciada na noite anterior. Foi chamada de minidilúvio. Da rua Governador Sampaio à Prainha do Arraial Moura Brasil, passando pela Barra do Ceará, Pici, Parque Bela Vista e São João Tauape, ''as águas invadiram tudo''. Na tragédia, ruas alagadas, casas em ruínas e centenas de famílias desabrigadas. Abrigadas, aliás, pela hospedaria Getúlio Vargas - por ironia, um lugar mantido pelo Estado para acolher os que fugiam da seca.

''As ruas centrais não escaparam, todas elas, principalmente a Major Facundo eram vertiginosas correntezas (...). (No parque das Crianças), grupos de moças e rapazes, tripulando duas canoas, remavam por entre os bancos e canteiros dos jardins''.
O jornal apresentava dois índices pluviométricos diferentes para aquela data. Ainda na manchete, a informação: ''até as 10 horas de hoje choveu em Fortaleza 270 mm''. O que se igualaria ao volume da chamada ''chuva do século'', no ano de 1997. No texto, outro dado é divulgado: ''Segundo o Pluviômetro do Serviço de Meteorologia choveu 250 mm''.

DÉCADA DE 50


Os terrenos próximos ao açude João Lopes começam a ser loteados, havia muitas cercas para que não ocupassem as terras sem comprá-las, sendo que os compradores com maior condição financeira compravam os terrenos mais elevados, para tentar escapar dos problemas trazidos pelo transbordamento do açude. Aos ocupantes mais pobres ocorria, inclusive, a discriminação dos moradores da região da REFFESA, chamando os que moravam muito próximo do açude de “bichos-de-pé”, os mais abastados proibindo até os filhos de jogarem futebol com aqueles. A energia elétrica para esta região vinha da Brasil Oiticica em postes de madeira, uma das poucas empresas da região na época, que beneficiava a oiticica em óleo, sendo que era um serviço muito deficiente, uma luz muito fraca, mais parecida com o luzir de lamparinas.
Para o lazer havia muitos campos de futebol, como o Campo do Iracema e do JK, próximos onde hoje estão a rua Raquel Holanda e o Pólo de Lazer Alagadiço, e o Campo do Cruzeiro ao lado de onde hoje está a Praça Manoel Dias Macedo; as casas de jogos da família Paixão (dona também de hortas pelo bairro), o Forró do Humaitá, que ficava onde hoje está o Conjunto Habitacional Cidade Alta, as afamadas tertúlias, as quermesses, que eram festas dançantes, com barracas, onde as músicas eram tocadas nas radiadoras, havia a disputa dos partidos azul e vermelho e os carnavais, onde as pessoas usavam qualquer roupa e arremessavam maisena umas nas outras.
Naquela época a rua Safira era chamada de “Piçarra”, por causa do material avermelhado de que era composta, lá passavam ônibus com uma certa cobertura de lona. As moças tinham medo dos “rabos-de-burro”, estupradores que ficavam à espreita, sendo recomendado andar acompanhada de pai, irmão ou marido. As pessoas iam às missas no Instituto das Irmãs, no bairro São Gerardo, e na Igreja N.ª Sr.ª do Perpétuo Socorro, no bairro Carlito Pamplona. As compras eram feitas na “feira de segunda-feira”, no lugar onde hoje está o Mercado do Carlito Pamplona, não havia mercados no bairro Ellery, apenas pequenas mercearias, então lá se abastecia de tudo.
No final dos anos 50, o Estado do Ceará sofreu uma das maiores secas até então registradas, o que acarretou a ocupação mais intensa de favelas como: Pirambú, Lagamar e Verdes Mares.

DÉCADA DE 60


Para resolver o problema da luz elétrica ineficiente os moradores negociam com a CONEFOR, responsável pelo abastecimento de energia elétrica no início da década de 60, melhores instalações para os que moravam as beiras do açude João Lopes, o que incluiu postes de cimento e transformadores, isto em 1962. No serviço de educação havia a Escola Estadual Honório Bezerra, fundada em 1964, chamada na época de “Grupo” Honório Bezerra, era a escola mais procurada na época, com o que hoje corresponde ao ensino fundamental, na época ensino primário – próximo a esta escola foi instalado o Chafariz, uma das primeiras obras de interesse público do bairro, servindo ao abastecimento de água potável aos moradores, também havia a “Escola do Seu Firmino”, escola particular que funcionava na esquina da rua Major Veríssimo com avenida Tenente Lisboa, e a escola que funcionava no Instituto das Irmãs.
Por volta de 1969, o lazer diário era a ida das famílias assistir a TV pública, em preto-e-branco, que ficava ao lado do Grupo Escolar Honório Bezerra, iam assistir novelas e programas como a “Família Trapo”. Havia o forró no CREVE (Clube Recreativo e Esportivo Vila Ellery) e ainda os muitos campos de futebol, que aumentavam em número, pois o açude ia secando e as pessoas construíam campos.
1962 - No dia primeiro de janeiro os moradores do Pirambu realizaram uma marcha até o Centro de Fortaleza, com a participação de mais de 30 mil pessoas, no sentido de evitar a desapropriação da área que vinha sendo ameaçada com várias tentativas de expulsão dos moradores.

DÉCADA DE 70


Os governantes da época, com a corriqueira situação de transbordamento do açude João Lopes e alagamento da região que o rodeava, no caso o bairro Ellery, a realizar a canalização e conseqüente desobstrução do açude, os trabalhos começaram em 1972 e foram concluídos dois anos depois. O serviço de saúde pública era inexistente no bairro, mas havia as parteiras-enfermeiras, formadas na experiência e na necessidade da comunidade, como no caso da D. Maria de Jesus, conhecida carinhosamente como “Mãe de Jesus”, que morava por trás do “Grupo” Honório Bezerra. Havia também as rezadeiras que realizavam um importante trabalho de informação sobre prevenção de doenças e mortalidade infantil, mas nos casos graves, com grande dificuldade, deviam se locomover aos jardins do Teatro José de Alencar, onde funcionava a SANDU, uma espécie de pronto-socorro da época.
Sobre a segurança pública havia construção das sub-delegacias, isto por volta de 68-70, sob o comando do General Manuel Cordeiro Neto, espécie de secretário de segurança pública da época, possuía o apelido de “lata furada”, pois sua política era de colocar aqueles que cometiam pequenos delitos, como embriaguez e desordem, para ajudar na construção dos prédios das sub-delegacias, à moda da época, de terno de linho e gravata, os homens carregavam latas furadas cheias de barro no ombro, saindo imundos da labuta.
Em 1974 é fundada a Escola Professor Martinz de Aguiar, primeiro com tele-ensino, e depois, com ensino de 1ª a 8ª séries, e em 1976 foi inaugurado o Centro Interescolar de 1º Grau Dona Creusa do Carmo Rocha, para atender aos alunos de 5ª a 8ª séries com seus diferentes cursos profissionalizantes. Havia trabalho na Brasil Oiticica (fábrica de castanha), Mecesa (metalúrgica) e Thomás Pompeu (tecelagem).
Na primeira chuva da década de 70, em 21 de janeiro, o jornal O POVO registrou 116 telefones ficaram paralisados, pane no fornecimento de energia e a denúncia da precariedade do sistema de esgotos. ‘‘Toda vez que chove, a história já saturada se repete’’, avaliava o jornal em 11 de junho de 1973. E conclui: ‘‘Sem a mínima infra-estrutura para enfrentar aguaceiros (...) a Capital cearense fica prisioneira das águas’’. Famílias desabrigadas e inundações nas margens dos leitos de rios e riachos foram conseqüências da ‘‘maior chuva do século XX’’, em 3 de junho de 1977. Mas a precipitação de ‘‘quase’’ 200 mm não seria realmente a maior do século, apesar de ter causado estragos comparados aos de um ‘‘minidilúvio’’.
No fim dos anos 70, a FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) começa sua atuação nos movimentos de bairros.

DÉCADA DE 80


Nesta época os membros do Conselho do Bairro lutam por duas conquistas: a construção de uma paróquia para o bairro e a construção de uma associação do bairro, para organizar e mobilizar para novas conquistas de melhorias para a comunidade. Inicia-se também a luta por terra e moradia no bairro, através de diversas ocupações organizadas, que viria a ser a principal marca da luta social local.
1982 - É criada a Federação de Entidades de Bairros e Favelas de Fortaleza (FBFF).
1984 - Primeira ocupação de terra do bairro.
1985 - Maria Luíza Fontenele (PT) é a primeira prefeita após o longo de governos militares ditatoriais no país, onde foram extintas as eleições diretas para cargos políticos públicos. Esta gestão foi sensível a questão de luta por moradia na comunidade.
1986 - Fundação da Associação Comunitária do Bairro Ellery. Ocorre a ocupação do terreno próximo ao açude João Lopes por 500 famílias.
1987 - Programa do leite do governo do presidente José Sarney fica a cargo, no bairro, da ACBE. Reivindicação para a construção do posto de saúde. Manifestação de panelas vazias por emprego e renda.
1988 - A luta nacional pela Assembléia Nacional Constituinte, para a criação de uma nova constituição para um país que deixava de ser governado por ditadores militares.
1989 - A invasão de terra para a construção de creche.

DÉCADA DE 90 E INÍCIO DO SÉCULO XXI


A ocupação desordenada de Fortaleza ganha velocidade na década de 90. O processo de favelização se agrava e, conseqüentemente, os problemas em áreas ribeirinhas, que passam a ser habitadas, transformando-se em áreas de risco, nisto se percebe que a questão da falta de acesso à terra e moradia aflige a maioria da população da capital, sendo que a onda de ocupações de terra no bairro Ellery prossegue nesta década, sendo que esta luta organizada rendeu ao bairro o status de bairro que mais conquistou conjuntos habitacionais no estado.
Na década, um marco: a chuva de 270 milímetros, em 24 de abril DE 1997, considerada a maior do século XX. Com ela, desabrigo e desespero, previsíveis. Quatro dias depois, o balanço: 2.675 desabrigados, nove ruas e avenidas precisando ser restauradas, 35 bairros com problemas de desabamentos, alagamentos e erosão. ‘Cresce em 67% ocupantes de áreas de risco (em um ano), informava O POVO em 1º de fevereiro de 1998 sobre o levantamento da Defesa Civil do Estado. Em 1998: 9.556 famílias e 47.800 pessoas atingidas pelas chuvas.
O açude João Lopes , agora um canal, mais parece uma fossa a céu aberto, dada a poluição do local, pois muitos moradores jogam dejetos no canal desde algumas décadas antes. Os que moram próximo do canal reclamam do mau cheiro e das muriçocas que invadem as casas.
O divertimento conta com o Pólo de Lazer Alagadiço, que fica na Av. Sargento Hermínio, com o futebol na areia, a pista de skate, a pista de bicicross improvisada e a “feira dos bichos” aos domingos. Durante a semana, há caminhadas e muitos casais de namorados que se aventuram num perigoso passeio noturno. Outro lugar muito movimentado é a Praça Manoel Dias Macedo, conhecida por “pracinha” ou “praça da Igreja”, onde ficam a paróquia do bairro e a Associação Comunitária do Bairro Ellery. As pessoas não vão à festas em clubes no bairro, eles não existem mais, agora vão à festas em casas de show espalhadas pela cidade.
Muitas entidades e associações surgem, como: Associação Com. Vida Nova do B. Ellery, Associação Cristã do B. Ellery, Associação de Moradores do B. Ellery e Monte Castelo, Associação Habitacional dos Moradores do Conjunto Vila Ellery, Sociedade Habitacional Vila Ellery, entre outras. No campo religioso não há apenas religiosos católicos, há evangélicos, espíritas, etc.
1990 - Implantação da Creche Favo de Mel na ACBE.
1992 - Criação do Posto de Saúde Dr. Paulo de Melo Machado.
1993 - Ocupação de terra no Monte Castelo e início da construção do 1º mutirão no bairro Ellery para 35 famílias. Desenvolvimento da Rádio Mandacaru FM, importante pela realização e luta por uma comunicação para a sociedade, feita pelos meios de comunicação, mais democrática e descentralizada, não apenas feitas por um pequeno grupo de grandes empresas de telecomunicação que visam apenas a audiência e criação de lucro, promovendo uma desqualificada comunicação para as massas, rádio onde os protagonistas eram operários, jovens, mulheres, todos convertendo-se em comunicadores populares e dos populares, pois a integração rádio/comunidade é um dos principais objetivos.
1994 - Ocorre nas ruas do bairro Ellery o 2º Grito dos Excluídos, evento anual e nacional, promovido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e diversos movimentos sociais, que coloca em questão a necessidade de sociedades menos desiguais e mais fraternas, colocando no centro da discussão a auto-organização dos mais desamparados socialmente por esses objetivos.
1995 - A construção de casas em regime de mutirão no Monte Castelo. Início da construção de casas em regime de mutirão no Padre Andrade. Feirinha cultural aos sábados na Praça da Igreja.
1997 - Construção de casas em regime de mutirão no Curió. Grandes cheias do açude João Lopes, a população vai as ruas em protesto por melhor moradia e saneamento básico.
2005 - Realização do 1º Encontro Social do Bairro Ellery, com a participação de diversas organizações populares (comunitárias, culturais, de segmentos, ONGs, etc.) e instituições educacionais e religiosas.
2006 - Criação do sítio eletrônico do Bairro Ellery, nas comemorações dos 50 anos do bairro.
2008 - Bairro Ellery ganha o prêmio Gentileza Urbana com o projeto Arte na Mureta realização da artista plástica Liliana Uchoa, em parceria com a Associação Comunitária do Bairro Ellery. No bairro é realizado o Curso de Criação de Sites para Bairros em Software Livre, iniciativa da equipe do sítio do Bairro Ellery, afim de expandir os conhecimentos adquiridos com o site. O curso é ministrado por Daniel Almeida Chagas.
2009 - Realizado o 1º Festival de Marchinhas Lauro Maia, uma iniciativa da associação do bairro.

VERSÃO DA HISTÓRIA


A história começa a partir de um loteamento denominado “Parque Themóteo” e tem como origem inicial as ruas Major Veríssimo e Gilberto Câmera já no final da década de quarenta. As vias de acesso a outros bairros como Monte Castelo eram através de veredas, onde se enfrentava matagal, lama e outros obstáculos.
Invadindo quase toda área de onde o bairro se projetou, existia a presença de um enorme açude como se estivesse próximo a uma grande fazenda de criação de animais e plantações de diversas culturas. A vida dos poucos moradores era, na realidade, equivalente a morar em uma propriedade do interior. As mulheres levavam suas trouxas de roupa para lavar nas poças d’água formadas pelas águas do açude e os homens pescavam peixes de modo artesanal para a sobrevivência.
Com o arrombamento do açude João Lopes, quase toda área ocupada por água foi loteada, dando vez a campos de futebol e a construção de casas. Os terrenos com acentuada elevação iam sendo mais cobiçados, num receio de que as chuvas alagassem as residências recém construídas.
Não foi muito fácil a luta. Conviveu-se com invasão de terra, desapropriação e alagamento constante. Porém, as melhorias vieram com o tempo: urbanização e pavimentação das ruas, transportes para os moradores, rede elétrica, água e esgoto e uma infinidade de serviços públicos.
Enfim, o bairro Ellery está inserido na classificação de bairro periférico com conotação preconceituosa, embora suas condições sociais tenham melhorado do princípio da década de noventa até os nossos dias.

LINHA DO TEMPO


Ellery, o Bairro que Vi Crescer
João Bráulio do Nascimento, ex-morador do bairro Ellery.
A década de sessenta foi uma das mais prodigiosas sob os aspectos político, econômico e cultural. Aquela época, embora não compreendêssemos bem esta questão, o mundo estava dividido entre as ideologias do capitalismo e do comunismo, comandadas, respectivamente, pelos EUA e pela Ex-URSS. Essa luta travada entre as duas potências se exteriorizou pela Guerra do Vietnã e pela corrida espacial, vencida pelos americanos com a chegada do primeiro homem (Neil Armstrong) a lua, em 21 de julho de 1969. O Brasil, aliado ao sistema capitalista, passou de 1964 a um sistema ditatorial com o cerceamento dos direitos individuais e coletivos, num período negro que durou cerca de vinte anos.
Na música, os Beatles eram os reis do rock. No cinema as estrelas mais famosas eram Brigitte Bardot, Jane Fonda e Sophia Loren. Entre os atores despontavam Charlton Heston, Marlon Brando, Alan Delon e Charles Bronson.
O Movimento feminista começou a dar seus primeiros passos em busca de mais liberdade sexual com o uso da pílula, a questionar o casamento como um dogma imposto pela Igreja e pelo Estado, a usar biquini nas praias e vestir mini-saia. A luta pelos mesmos direitos estava deflagrada e os homens que se cuidassem. Hoje, só nos resta dizer: Elas venceram!
Na mesma época, no Brasil, surgiu o movimento da Jovem-Guarda, encabeçado pelos cantores Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, Renato e seus Blue Caps, os Golden Boys, Ronnie Von, Jerry Adriane, Wenderley Cardoso, Martinha, Nara Leão e outros. Tal movimento criou os nossos ídolos e ditava o ritmo das músicas que tocavam nos bailes de formaturas e tertúlias, no rádio se ouvia as radionovelas, como: O direito de nascer, Meu Pé de laranja lima, Jerônimo, o Herói do sertão e outras.
Roberto Carlos em sucesso da época cantava: "Quero que você: me aquela neste inverno e que tudo mais vá pro inferno...". Enquanto isso, Wanderley Cardoso era o Bom Rapaz e Rossini Pinto traduzia as músicas dos Beatles e fazia as versões para Renato e seus Blue Caps. Será que a pirataria já vem desse tempo?
No futebol, vimos o Brasil ser tricampeão mundial no México, em 1970, sem compreender e pouco fazer frente à situação que o nosso país enfrentava à época com o regime ditatorial, exceção feita ao movimento estudantil e às pessoas que estiveram diretamente envolvidas na luta armada contra o regime. Não tínhamos a tecnologia, o progresso e a ciência como os conhecimentos de hoje, entretanto, usufruíamos da liberdade plena de ir e vir, pois saíamos das festas e/ou tertúlias tarde da noite sem nos preocuparmos com questão de segurança, já que Fortaleza era uma cidade pacata.
Os espaços eram muitos, sobretudo para jogar futebol. Entre os bairros Alagadiço, Presidente Kennedy, Monte Castelo e Carlito Pamplona situava-se a Vila Ellery e Santa Maria, hoje conhecido como Bairro Ellery, havia também o açúde João Lopes, onde tomávamos banho sem nenhuma poluição, dividindo os quatro bairros e, nas imeidações existiam cerca de 5 (cinco) campos de futebol. Aos domingos era nosso divertimento assistir aos jogos do Flamenguinho de seu Fernando, do Tabajara de seu Lino, do Vila Iracema do Biril, do Humaitá do Paraibano (hoje Cezar e Dona Zezinha), do Alagoas do Raimundo Delfino e seu Eduardo (hoje do Dedim) vi nascer os times Cruzeiro do Júlio, o BD esporte do Toin bebe leite, o Vai quem quer do Raimundinho da Picanha, o JK do Querido, o Joinville do seu Geraldo e dona Socorro, o Guarani da dona Gracinha, o velho Ceará, o Coca-Cola do Zé Maria, o liberal do seu Raimundo, o Grêmio do William da dona Zezinha, enfim bons times do subúrbio.
Não existia computador pessoal, celular, CD, DVD, nenhuma dessas parafernálias que atualmente fascinam os jovens, nem existia também esse consumismo exagerado. Em compensação tínhamos espaço para jogar futebol, soltar pipa, trocar figurinhas de álbuns, jogo de bila, de bafo, brincar de mãos ao alto, imitando os filmes de bang-bang (Faroeste). A propósito, entre os Gibis da época, comprávamos e permutávamos entre os colegas as revistas mais famosas como Flexa-Ligeira, Fantasma, Tio Patinhas, Mickey e Pateta, Zé Carioca, Zorro, Superman, Batman, Kit Casson e Búfalo Bill.

Televisão existia (a primeira da dona Consuelo), porém era artigo de luxo, de forma que as pessoas de bom coração, que possuíam aparelho de TV, enchiam suas salas de estar com crianças para assistir aos seriados. Era o Televizinho, uma das formas mais solidárias que existia de se fazer amizade entre as crianças e famílias. A TV só funcionava à noite e ficávamos contando as horas para assistir aos seriados. Chegávamos ao delírio ao ver o Zorro desenhar com a espada o "Z" na barriga do Sargento Garcia. O seriado Bonanza era outro de nossa preferência, com a saga da família cartwright. Exemplo de bravura, honradez e coragem em defesa de seu rancho em Cartwright, um homem de propósitos, e seus três filhos (Joe, Ross e Adan), deram exemplo de bravura, honradez e coragem em defesa de seu rancho em Nevada, no Velho Oeste Americano. Este seriado era espetacular não só pelas histórias, mas também pela música de introdução, bem como por ver o mapa de Nevada queimando e aparecendo, logo em seguida, os quatro personagens. Os vários filmes da época como Rin Tin Tin, Tarzan, Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo, O Homem de Virginia, Jeanny é um gênio, a Feiticeira, Daniel Bone, Durango Kid, Chaparral e outros.
Entre essas pessoas citamos a família do Sr. Walter Marinho e Dona Adail (seus filhos Walter Filho, Cláudio. Oscar e Alan), a família do Sr. Pedro Paulo (Seu Pedro) e Dona Senhorinha na rua Gilberto Câmara, o Senhor Manoel Simpes e Dona Joanilza que moravam vizinhos aos Grupo Escolar Honôrio Bezerra. O Sr. Cruz, dono da madeireira do bairro (Presidente do Conselho do Bairro). O Sr. Leônidas dono do depósito de construções, Sr. Simãozinho dono de mercearia, O Sr. José da Costa dono da empresa de ônibus de uma só porta com trocador cobrando passagem com dinheiro exposto entre os dedos e seus motoristas como: Capote, Pichilinga, Geraldo e Chico, o mais antigo. A mercearia do pai dos pobres no final da linha. O Sr. Francisco (Chico) e seus filhos Lusimar e Valdeni do referido Grupo Escolar, tinham a tarefa de todos os dias ligar e desligar o Televisor Público, a fim de que as famílias e crianças humildes pudessem assistir programas preferidos.
Aos domingos pela manhã, assistia aos jogos de sinuca na mercearia de seu Zezinho e se deliciar com doce de leite, depois dos jogos nas noites de domingo ia para missa no bairro Carlito Pamplona porque no Bairro ElIery não existia igreja, depois da missa saiamos para as tertúlias no CREVE (Clube Recreativo da Vila Ellery) do Sr. Venêncio e dona Stela, ou então nas residÊncias dos amigos, a base de luz negra, as famosas discotecas ao som de Tina Charles, Elvis, Beatles e tantos outros.

No grupo escolar Honôrio Bezerra, onde estudei, lembro-me que existia só alfabetização, primeiro ano fraco, primeiro ano forte, segundo ano e terceiro ano e só estudavam homens. lembro-me de meus amigos de dasse: Evaldo, Roberto Moreira, do Pedra, do Jorge, do Etiseu e outros... Das minhas professoras: luzanira, Terezinha, das Diretoras dona Fransquinha e de dona Eleomar. Não se pode esquecer, também, do Prof. Firmino e seu irmão Toinho, os quais como pessoas de bem davam o bom exemplo como educadores dirigindo uma Escola que era referência no Bairro Ellery.
Foi nesse cenário que vimos o Bairro Ellery crescer, numa Fortaleza simples, acolhedora, segura e solidária, onde as pessoas tinham o prazer de dividir com seus amigos, vizinhos e familiares o pouco que tinham. Não possuíamos riqueza sob o ponto de vista econômico ou financeiro, mas éramos ricos e felizes porque tínhamos espaço, segurança, liberdade e fraternidade, coisa que não encontramos neste mundo globalizado de hoje.
O Sr. Manoel do Nascimento, homem respeitado e conhecido no Bairro Ellery, tendo inclusive assumido a direção do Conselho do Bairro (Presidente) e devido a sua excelente atuação, conseguiu o saneamento do açude João Lopes e ainda hoje reside no Bairro.

PÓLO DE LAZER


As áreas verdes servem de filtro para o ar poluído das grandes metrópoles, favorecem a biodiversidade e o equilíbrio ambiental, enriquecem a paisagem urbana e proporcionam lazer, um dos componentes obrigatórios da qualidade de vida nos grandes centros urbanos.
Localizado no bairro São Gerardo - Alagadiço (vizinho ao Bairro Ellery) e criado pelo decreto municipal Nº 4630/76 de 30 de janeiro de 1976, que desapropriava uma área aproximada de 23 ha para fins de utilidade pública, o Parque Alagadiço, também conhecido como Pólo de Lazer Sargento Hermínio, é a única área verde oficialmente regida pela Secretaria Executiva Regional I na zona oeste de Fortaleza. De acordo com o decreto que o criou, é considerado Zona de Preservação Paisagística ZE-3. É uma área de elevado valor ambiental por conta de sua arborização densa e de grande porte, típica de mata ciliar, em virtude da presença do Riacho Alagadiço, além de um rico lençol freático e biodiversidades existentes.
Oficialmente, a área delimitada para o parque se inicia no cruzamento da Avenida Sargento Hermínio com a Rua Professor Pedro Morais Borges e segue no sentido sul pela Rua Professor Pedro Morais Borges acompanhando os limites do loteamento vizinho, de propriedade privada, até o ponto que dista 210m medidos a partir do alinhamento norte da Av. Bezerra de Menezes. A partir daí, segue na direção oeste, paralelo à Av. Bezerra de Menezes até alguns metros da Rua Eretides Martins, continuando no sentido norte, novamente até a Avenida Sargento Hermínio.
Tomando como base dados da Prefeitura Municipal de Fortaleza, do total de 23ha que compõem o parque, apenas 4ha são urbanizados. Esta área urbanizada possui cobertura vegetal densa de grande porte e nativa, oferecendo sombra aos usuários, além de excelente qualidade ambiental. Há abundância de espécies frutíferas, tais como: coqueiros, mangueiras e cajueiros, além de uma vasta diversidade em sua fauna. Em sua porção não urbanizada, existe a predominância de mata fechada e uma grande área pantanosa com vegetação arbustiva e de forragem, muito comum em áreas degradadas e assoreadas.

Entretanto, apesar de toda a sua extensa cobertura vegetal para os padrões da região oeste de Fortaleza, sua área verde tem sido sistematicamente subtraída e ocupada, vitima, sobretudo da especulação mobiliária.
O Parque Alagadiço está inserido na bacia hidrográfica do Rio Maranguapinho. Em sua porção sul é cortado por um trecho do Riacho Alagadiço, o qual, apesar de ter respeitada sua faixa de proteção marginal de 30m nesta área do parque, tem sido, em toda a sua extensão, vítima da poluição oriunda de ocupações irregulares, lixo e esgoto domiciliares, comerciais e industriais, tendo assim a qualidade de suas águas comprometida pelos efluentes lançados em alguns pontos das galerias de águas pluviais e pela degradação de suas margens.
Ainda com relação a seus recursos hídricos destaca-se seu lençol freático, de extrema importância para a população de seu entorno, uma vez que fornece, por meio de um chafariz, cerca de 25.000 l/dia de água potável e gratuita.
Característica marcante do Pólo de Lazer Sargento Hermínio é a presença de uma mureta, pintada de branco, que separa o trecho pavimentado principal de um bosque onde estão as árvores de maior porte. Recentemente essa mureta sofreu uma intervenção onde foram confeccionados, pelos seus usuários, mosaicos decorativos ao longo de sua extensão.
Dentro desta área existem espaços cercados e ocupados por edificações, que merecem estudo para processo de desapropriação. A versão original do parque possuía bares e banheiros públicos que, no entanto, por conta de falta de uso, abandono e vandalismo, foram demolidos. Outro equipamento de grande importância presente parque é a quadra esportiva, embora subdimensionada, construída nos últimos anos juntamente com a casa de segurança e a secretaria do Pólo, uma edificação contígua à quadra, reivindicações antigas da comunidade local. Por fim, também por intermédio da comunidade, uma pista de skate compõe o quadro de equipamentos complementares do parque. Casa de Segurança que serve de apoio para a polícia que faz a vigilância do local.
O Parque Alagadiço atua ainda como elemento congregador da comunidade, servindo de palco para diversas manifestações populares ao longo do ano, como o festival de quadrilhas do Bairro Ellery, reivindicações populares e diversos outros eventos de lazer promovidos pelos órgãos públicos ou por iniciativa da comunidade. Festival de quadrilhas do Bairro Ellery e crianças reunidas durante a entrega dos mosaicos na mureta.

AÇUDE JOÃO LOPES


O açude João Lopes tornou-se referência do bairro Ellery desde muito tempo. Poderia até ter se transformado numa lagoa ou num lago para o lazer da comunidade. Represado onde é a Avenida Sargento Hermíno, o açude passa por problemas ambientais desde quando foi arrombado pela primeira vez e causou transtorno para a população, deixando inclusive várias famílias desabrigadas.
Na época, a energia elétrica era precária. Levada as ruas pelos postes de madeira da Indústria Brasil Oiticica que produzia óleo em larga escala através do fruto da oiticica. As lavadeiras aproveitavam uma espécie de cacimba às margens do açude e lavavam suas roupas, estendendo-as ali mesmo sem o receio de que alguém aparecesse para roubá-las. Muita gente ia tomar banho, pegar um bronze e fazer o seu picnick. A pesca era uma diversão a mais; fosse com anzol ou landuá, uma espécie de peneira com fundo longo, eram presas fáceis.
Em 1972, um canal foi construído para conter as constantes inundações. Ele corta as ruas Henrique Ellery e Doutor Atualpa até atravessar a Praça da Igrejinha e desembocar no Açude João Lopes. O canal recebe também esgoto de outros bairros. Nos dias de chuva torrencial, as inundações são inevitáveis e a população sofre pela perda de móveis e objetos pessoais.
A situação só foi melhorada com a construção de uma válvula de escape do lado direito do açude, levando boa parte das águas para o Alagadiço, indo daí para o Rio Maranguapinho. O canal ainda precisa de muitos cuidados.
Os moradores, que construíram seus barracos no local, sofrem com os problemas causados pela sujeira. Há acúmulo de detritos jogados por eles próprios que fazem com que o açude fique ainda mais poluído e contribua para a infestação de insetos nocivos à saúde humana, além de roedores. O açude, que deveria ser uma área de proteção ambiental, é na realidade um depósito de lixo a céu aberto.

Um buraco bem grande
Um buraco aberto há cerca de seis meses sobre o canal do açude João Lopes ficou ainda maior depois das chuvas do início do ano. Placas de cimento que funcionam como calçada caíram com a força das águas, obstruindo a passagem normal da água e deixando os moradores preocupados com a falta de segurança dos imóveis no entorno.
Segundo o porteiro João Batista da Silva, 68, morador do bairro desde 1965, o problema de alagamentos no local existe sem que o poder público tome providências para resolvê-lo. Ele ainda não se acostumou com as constantes enchentes. “Já vi várias vezes a água entrando aqui em casa”, diz. Para livrar a casa da água que, na quadra invernosa, bate no tornozelo, precisa do auxílio dos vizinhos.
A casa da castanheira Maria Lúcia Ferreira Lima, 65, fica com o piso todo molhado, além de roupas e tecidos de cama. Como sofre com problemas de pressão arterial, é logo retirada pelas filhas, assim que a chuva começa. “Não deixo mais minha geladeira aqui”, disse, por causa do risco de morar ao lado do canal do açude.
Com medo de desabamentos, duas famílias optam por dormir na sede da Associação Comunitária do Bairro Ellery, que fica à disposição para demais ocorrências. A direção da entidade lembra que as obras de urbanização da área no entorno do João Lopes, incluindo a retirada de algumas famílias do local, foram aprovadas no Orçamento Participativo de 2005. Até agora, nada foi feito.
Ao lado do canal, uma placa da Prefeitura, com o valor da obra orçado em R$ 5,3 milhões, confirmava a informação da líder comunitária. “Essa obra já era para estar concluída. Estamos cobrando da Prefeitura para iniciar logo. Pelo menos, a tirada dessas famílias para o aluguel social”, protestou.
Os técnicos da Defesa Civil do Município sempre estão no local vistoriando os estragos, mas não constataram a necessidade de remover famílias dali. Os moradores foram orientados a acionar o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) caso alguma eventualidade acontecesse.Fonte: Diário do Nordeste

ESTAÇÃO DO TREM


A estação, que está no limite dos bairros Ellery e Carlito Pamplona, é um ponto de referência para os moradores das duas localidades. A partir da metade do século XIX, muitas pessoas utilizavam o trem para se deslocar de um ponto ao outro da cidade. Em virtude da falta de transporte público, as linhas férreas enchiam de esperança onde passavam.
Durante muitos anos, porém, a estação foi motivo de briga entre as duas comunidades. Os moradores do bairro Ellery tinham que contornar todo o muro de proteção da linha férrea até a avenida Dr. Temberg, percorrendo mais de quinhentos metros de distância. O acesso à estação era somente do lado do bairro Carlito Pamplona. Somente nos anos 90, o problema foi resolvido com a construção de uma passagem ligando ambos os bairros.

EMPRESA DE ÔNIBUS SANTA MARIA


Empresa de Ônibus Santa Maria
Em meados da década de 30, a empresa de ônibus Santa Maria foi criada e tournou-se notícia nos jornais locais. A Gazeta de Notícias dava ênfase à criação da linha Centro – Açude João Lopes no dia 10 de fevereiro de 1939. Destacava também o valor das passagens que custavam 300 reis (moeda da época).
Tempos se passaram e a empresa Santa Maria continuou atendendo aos moradores do bairro Ellery. Hoje, um patrimônio para a comunidade. Criada pelo empreendedor José da Costa, a empresa enfrentou dificuldades de financiamento, mas conseguiu se manter ativa. O proprietário viu o empreendimento crescer em número de ônibus e funcionários. Transformou uma empresa familiar num grupo forte e estável. Teve a cooperação também de amigos.

RÁDIO


Rádio Mandacaru
No Bairro Ellery, a utilização de meios de comunicação seguiu a trajetória dos movimentos sociais urbanos emergentes na segunda metade dos anos 70 e início da década de 80. Esse foi um período no qual as manifestações populares editaram seus jornais comunitários e criaram suas radiadoras. Na década de 90 muitas das experiências com as radiadoras se transformaram em rádios comunitárias FM’s, entretanto, com o fechamento da maioria delas, têm surgido novas experiências comunicativas, a utilização da internet e a criação de site é uma dessas novidades.
Mais especificamente na trajetória do Bairro Ellery, à medida que as mobilizações cresciam mais assembléias e eventos passaram a ser realizados, os líderes comunitários sentiram necessidade de um meio de comunicação, assim, no dia 13 de agosto de 1991, montaram o sistema de som, denominando de Rádio Comunitária do Bairro Ellery.
Anteriormente o bairro já tinha vivido a experiência de criar o jornal comunitário, Garra Comunitária, que circulou de forma irregular na década de 80. Temos nessas duas experiências as primeiras estratégias de comunicação existentes no Bairro. A programação inicial da radiadora divulgava as assembléias, repassava informes sobre as atividades dos mutirões e chamava os moradores para atender chamadas no telefone público, instalado na sede da associação. Aos poucos, o sistema de som passou a acompanhar as lideranças em suas manifestações, foi integrado e utilizado nos mutirões para reproduzir música e também em manifestações de confronto com a prefeitura.

Programas musicais, informes e mais tarde a transmissão de jogos de futebol amadores nos bairros, caracterizaram as primeiras programações do sistema de alto-falantes. Em 1998 a radiadora transformou-se na Rádio Mandacaru FM. Durante a atuação das lideranças no Bairro Ellery, Fortaleza viveu junto com muitas cidades brasileiras o movimento de radiadoras comunitárias (sistemas de alto-falantes), entretanto os moradores do bairro ressaltam que não fizeram parte desse movimento que se integrava através do Centro de Produção em Comunicação Alternativa (CEPOCA), criado em 1988.
Somente em 1995 o Bairro Ellery passou a fazer parte do CEPOCA quando Aguinaldo José Aguiar, liderança do movimento popular foi eleito presidente dessa entidade. Nesse período o CEPOCA tinha sofrido muitas transformações e recebia a denominação de Associação de Rádios Comunitárias, ARCOS-CEPOCA. Ainda na década de 90, em nível nacional começaram a surgir muitas rádios comunitárias FMs, estimuladas pelo Movimento de Democratização da Informação e da Comunicação.
A participação no CEPOCA e a existência do sistema de som estimularam os moradores a montarem a Rádio Comunitária Mandacaru FM em 1998. Entretanto, o processo de montagem da emissora foi gradativo. Em meio às dificuldades financeiras, comuns ao movimento populares, a montagem da rádio só foi possível com o financiamento de quatro mil reais conseguido através de empréstimo concedido pelo Cearah Periferia e a quantia de quinhentos reais conseguida com o Sindicato da Castanha, entidade da qual faziam parte diversas lideranças do bairro.
A quantia conseguida com o Cearah Periferia foi emprestada e deveria ser paga após o funcionamento da emissora. A rádio Mandacaru FM, de grande importância para o Bairro, existiu de 1998 a 2003 quando não conseguiu concessão e foi fechada pela ANATEL.
É importante ressaltar que essa emissora teve uma programação plural, na qual diversos segmentos sociais e culturais apresentaram programas. Os programas tinham duração de uma hora e se dividiam entre: Hip Hop, Cultura de Rua, Vem cá Poeira, Vida de Mulher, Rock História, The Reggae Moving, A volta da Jovem Guarda etc.
A Rádio Mandacaru FM representou uma proposta educativa que teve sua paralisação num contexto em que a comunicação é monopolizada por empresários e políticos. No entanto, o fechamento da rádio não impede que o Bairro Ellery crie outro meio de comunicação, dessa vez, o site ou sítio eletrônico, como preferem chamar: www.bairroellery.com.br.

SITE DA COIMUNIDADE


Criado há um ano o site (www.bairroellery.com.br) é um campo rico com as mais diversas atrações e expressões do movimento popular do bairro e das atividades cotidianas vividas por muitos de seus moradores. O site apresenta informações sobre assuntos diversos como: história do bairro, entidades culturais e sociais do movimento popular, notícias locais e nacionais, fotografias, etc. Uma constatação importante é uma coletividade no processo de criação do site. Essa coletividade não expressa a ação de todos os moradores do bairro, mas já é possível perceber que o site não representa uma iniciativa individual.
Dentre os colaboradores encontramos Agnaldo José, principal articulador do site, ex- morador do bairro e militante do movimento popular e do PC do B, Raul Campos, morador do bairro, professor de história e participante do movimento Comunidade Reunida Hip Hop, Clarice Araújo, esposa de Raul, estudante de economia doméstica e participante da ONG feminista Centro Socorro Abreu, entidade que defende os direitos da mulher no bairro, Daniel Almeida morador do bairro e webdesigner que mantém tecnicamente o site e Tobias Marques Sampaio que é cronista, escritor e também morador do bairro.
No link que apresenta a história do bairro encontramos informações densas como: a história do nome das ruas que foi levantada por Tobias Sampaio. Nesse mesmo link encontramos uma catalogação de todos os equipamentos do bairro, desde quantidade de praças, instituições religiosas até os estabelecimentos comerciais. Este item será renovado em breve, pois uma nova pesquisa foi realizada em 2006 por 10 jovens que participaram de um mapeamento da comunidade. Os jovens são estudantes das três escolas públicas localizadas na comunidade.
O site possui uma agenda atualizada com informações sobre reuniões e assembléias que acontecem no bairro, divulgação de eventos, de campanhas de vacinação etc. A Agenda contém a programação mensal dos acontecimentos mais relevantes na comunidade. Apresenta ainda as galerias de fotos dos eventos realizados no bairro: bloco de carnaval (Bloco Sai na Marra), quadrilhas juninas, mobilizações realizada durante a copa de 2006 etc. Com relação à interação com o receptor e com o bairro em si, o site é extremamente rico. Tem diversos mecanismos que permitem esse contato, como por exemplo: enquetes com assuntos que dizem respeito ao bairro, possibilidade de criação de conta de e-mail e Orkut. O espaço apresenta ainda a possibilidade de envio de comentários sobre os artigos e fotos.
Um fato que chama nossa atenção é a preferência dos idealizadores do uso da palavra sítio e não site. Vemos isso como uma valorização da Língua Portuguesa, como é explicado no próprio site. Não há, porém uma exploração desta opção com artigos explicando essa escolha. Apesar da valorização da Língua, a utilização da palavra sítio pode inclusive causar confusão ao receptor não acostumado com essa nomenclatura. Entretanto, não nos detivemos ainda na verificação desse detalhe.
E importante ressaltar que o site tem o compromisso com a informação, com a propagação da cultura, com melhorias do bairro e conseqüentemente da vida dos moradores. Numa análise mais profunda constatamos que o site do Bairro Ellery é uma ferramenta importante como difusor da memória e auto-imagem da comunidade e de seus moradores. Nesse espaço virtual o bairro aparece em movimento contínuo, as matérias destacam as qualidades positivas das pessoas, as atividades culturais e a memória das conquistas concretizadas através das lutas da associação comunitária do bairro. O link que melhor expressa essa dimensão positiva da imagem da comunidade é aquele construído com o trabalho de elaboração de textos e ensaios fotográficos realizados pelos próprios moradores.
A memória, além de está presente no link Conheça Nosso Bairro e apresentada também no tópico “História do Bairro”, mostra a trajetória de organização do bairro em seus 50 anos (1940 a 2007). Aparece ainda em muitas matérias, sendo usada como suporte para projetar a auto-imagem da comunidade. Observamos que os fatos ocorridos no passado ganham relevância na construção da auto-imagem, tanto do Bairro como de seus moradores. Essa estratégia parece nova e tem sido descoberta ao longo dos cinqüenta anos de história e mobilização da comunidade.
As matérias mais positivas são conquistadas pelos moradores que procuram e provocam a mídia para divulgar esses atos. Algumas matérias divulgadas são oriundas da cobertura que a mídia comercial local faz dos eventos promovidos pelo Governo do Estado ou pela Prefeitura.
As matérias, produzidas pelo site, também enfocam atletas da comunidade, atividades de mobilização e a fala daqueles que participam desses eventos. Nesses casos, encontramos uma atenção especial dada a quaisquer atividades que envolvam jovens, idosos ou grupos culturais e que ressaltem a imagem da comunidade como inserida num contexto social, político e cultural produtivo.
Como podemos perceber, a diversidade de sujeitos tomada na apresentação do bairro valoriza um único elemento o destaque positivo da comunidade. Desse modo, a auto- imagem vai sendo construída. Os elementos mais comuns são a cultura, a mobilização, o destaque pessoal dos moradores e a atuação coletiva das entidades mobilizadas existentes nessa comunidade. O destaque pessoal é uma novidade na trajetória dos movimentos sociais, entretanto, ele não aparece como um propósito individualista. Os sujeitos em suas trajetórias individuais são ressaltados para engrandecer a imagem da comunidade e o cenário social onde todos habitam. Sendo assim, a auto-imagem não é construída apenas com a valorização das ações coletivas.
A fotografia é outro recurso fundamental na construção do site e na expressão dessa auto-imagem. Ela aparece na ilustração das matérias dando ênfase a descrição dos acontecimentos que envolvem grupos e pessoas. Fotografias de passeatas, pessoas em ação nas reuniões, moradores em destaque legitimam e concretizam a imagem informada no texto das matérias.
O recurso fotográfico aparece também como elemento chamativo para os internautas visitarem o site. Imagens dos brincantes do Bloco Sai na Marra, que desfila durante os quatro sábados que antecedem o carnaval, das apresentações de quadrilhas, das festas e movimentos que ocorrem no bairro, são dispostas no site com o objetivo de atrair o internauta.
As fotografias que retratam crimes ou conflitos violentos aparecem somente no link “Bairro Ellery na Mídia”, cobertura feita pela mídia comercial. Aqui se repete o mesmo processo que constatamos na elaboração das notícias sobre o bairro nas quais é priorizada a valorização da auto-imagem da comunidade e de seus personagens sociais.
O fato de o site colocar a disposição do internauta a apresentação da cobertura que a mídia comercial faz da comunidade deixa claro que o objetivo não é idealizar a comunidade, mas destacar as atividades produtivas realizadas pelos sujeitos que habitam nesses contextos.
A mídia comunitária sempre exerceu esse papel impulsionador de uma imagem elevada das comunidades. No site do Bairro Ellery essa representação é intensa, pois observamos que na mídia eletrônica a dinâmica da produção é mais recorrente. O mesmo não acontecia com os jornais comunitários impressos na década de oitenta.
O custo dos jornais impressos não permitia essa dinamicidade e muito menos o uso da fotografia como elemento chave na composição dessa imagem. A pesquisa tem constatado e refletido até o momento, que o site do Bairro Ellery surge como novo instrumento de comunicação para dar continuidade e visibilidade ao movimento popular e ao cenário urbano, no entanto, o site não aparece como instrumento de comunicação isolado da trajetória anterior das mobilizações ou da criação de outros meios de comunicação para contribuir na construção da auto-imagem desse movimento.
O fechamento da rádio criou certo vazio e nós tentamos buscar no contexto atual, observando o que tinha espaço, observando as nossas possibilidades de criar um novo instrumento que pudesse contribuir de outra forma porque o site tem outra linguagem, Mas uma dificuldade que sempre tivemos aqui foi de se comunicar com a juventude, por exemplo, o site ele consegue fazer isso. Ele ta numa fase inicial, embrionária que tem muito pela frente. Ele tem facilidades e dificuldades.
Enfim, o site não ressalta apenas elementos coletivos da luta popular. Isso ocorre porque a visibilidade buscada não é centralizada na imagem do movimento, mas na visibilidade do bairro, de seus moradores na construção de sua alto-imagem positiva e na reconstrução de sua história.

FESTIVAL


Festival de Marchinhas Lauro Maia
O Festival de Marchinhas Carnavalescas Lauro Maia é um concurso realizado pela Associação dos Moradores do Bairro Ellery, em parceria com o Bloco Pré-Carnavalesco Sai na Marra e com apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor).
Conheça a vida e obra de Lauro Maia, o grande homenageado pelo festival de marchinhas
Cinquenta e quatro anos após sua morte, Lauro Maia permanece como um dos maiores músicos cearenses de todos os tempos. Desde as primeiras apresentações na Ceará Rádio Clube, até a parceria com Humberto Teixeira e a “conquista” do Rio de Janeiro, Capital da República, Lauro escreveu, em uma curta trajetória de vida, uma obra que segue desconhecida por muitos, mas perene na qualidade com que cantou sua época e seu contexto. Agora, a história de vida de Lauro Maia pode ser revisitada, de modo suscinto e didático, através da biografia condensada lançada por Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, categórico pesquisador que reflete sobre nuances da vida e da obra de Lauro Maia e revela detalhes e bastidores da formação da indústria cultural musical no Rio de Janeiro e na Fortaleza das décadas de 30 e 40.
Bandeira da saudade, muito além. Lauro Maia Teles, pianista, acordeonista e compositor cearense, nasceu em 1913. Sobre a data exata, persistem dúvidas, no confronto entre o registro civil e a certidão de batismo: seis de setembro ou seis de novembro? O fato é que o filho do dentista Antônio Borges Teles de Menezes e da professora de piano e compositora Laura Maia Teles de Menezes cedo escreveu sua própria história. Da resistência inicial às aulas de música ministradas pela mãe, passou mais tarde a se dedicar ao estudo, motivado pelo convívio com as obras de compositores cearenses e da fantástica produção musical da década de 30, período de gestação da moderna indústria cultural brasileira, em muito forjada pelas ondas emitidas pela Rádio Nacional e de outras emissoras do Rio de Janeiro.
Dos primeiros estudos aos 10 anos ao piano executado no Cine Majestic e na sala de espera do Grêmio Dramático Familiar, Lauro chegou em meados da década de 30 à sua primeira criação: o fox “Chega Pia!”, que passou a ser ouvido no intervalo das peças no Theatro José de Alencar. Pouco depois, a primeira marchinha deixa entrever a atmosfera condizente com as letras da época: “Não te quero mais / Vai, me deixa em paz / Não te quero / Vai suicidar-te / Aí tem fósforo e tem gaz”.
Na direção artística da Ceará Rádio Clube, o compositor se aproximou ainda mais da música popular, fosse a produzida pelo lado de cá, fosse a que chegava com o carimbo da consagração no Rio de Janeiro, meca política, econômica e cultural. Através do contato com a cultura popular, Lauro adaptou algumas peças musicais, alcançando sucesso. Também compôs bastante para o carnaval, cantando o cotidiano de uma Fortaleza bem diferente, em sua aparente ingenuidade.
Até que Lauro deixa escapar por um triz a graduação em Direito, resolvendo partir para o Rio. Na capital do País, ganha projeção nacional, tendo seu talento reconhecido e ampliando a repercussão de suas composições, através da parceria com o ilustre cunhado Humberto Teixeira. Foi também através de Lauro Maia que Humberto juntou seu matulão musical ao de outro “nortista”, um tal de Luiz Gonzaga, que encasquetou que o baião ouvido dos cegos e cantadores de feira bem poderia fazer sucesso no Rio de Janeiro. No resto, a história seguiu seu percurso.
Já Lauro Maia, que também abriria espaço para gêneros populares como a ligeira e o miudinho, apostou suas fichas no lançamento nacional do balanceio, ritmo que utilizou para compor sua “Eu vou até de manhã”. “Quem balança com jeito há de gostar / E se a nega for boa não quer mais parar / E o cabra chega fica mole, fica mole, mole, mole”. Mas obteve mais êxito no carnaval, mais precisamente com “Deus me perdoe”, versos de Humberto sobre a música ainda composta em Fortaleza. Uma das mais cantadas no carnaval de 1946. Na verdade, uma jóia atemporal.
Pena que o “bom tempo feliz” não durou muito. Desleixado com a própria saúde, o músico foi vitimado pela tuberculose, com a qual convivia pelo menos desde 1947, três anos antes de seu falecimento. Do Cemitério de São Francisco Xavier, no Rio, seus restos mortais foram transferidos em 1955 para o Cemitério São João Batista. O filho voltou à terra, em que sua obra permanece desconhecida para muitos. Mas ainda repercute, graças ao esforço de pesquisadores e produtores e à sensibilidade de intérpretes capazes de, mesmo bissextamente, recorrer ao baú de cantigas. Das quais Lauro Maia foi um senhor criador. Fonte: Diário do Nordeste (12/09/2004)

BLOCOS DE CARNAVAL


Bloco de Carnaval Sai na Marra
Em 2010, o bloco Sai na Marra comemora 10 anos de folia e tradição e, segundo seus organizadores, promete fazer o maior pré-carnaval de todos, tendo como lema “O buraco é mais embaixo”, lembrando que o pré-sal tem que ser do povo brasileiro.
Fundado no ano 2000, o Bloco Pré-Carnavalesco Sai na Marra tem hoje quase cinco mil brincantes. Após concentração na Praça da Associação Comunitária do Bairro Ellery, o bloco desfila sempre nos quatro sábados anteriores ao sábado de Carnaval pelas principais ruas do bairro Ellery e Monte Castelo.
Além da integração com a comunidade, uma das preocupações do bloco trabalhar uma temática social, lembra um dos organizadores Aguinaldo Aguiar. No pré-carnaval de 2008, a temática foi ecológica. “A mata não é mais virgem, o vento não é mais fresco, mas o bloco é ecológico” foi o lema do Sai na Marra, como uma forma de protesto contra as ameaças de especulação imobiliária em uma das maiores áreas verdes da região, o parque Sargento Hermínio, também denominado parque Valdo Pessoa.
Em 2007, a bandeira dos foliões foi a denúncia da violência contra a mulher, em 2009 o ponto alto foi o festival de marchinhas e a homenagem ao compositor cearense Lauro Maia. Aguinaldo Aguiar explica que as atividades com os participantes do bloco se tornam intensas mesmo por volta do mês de novembro. A partir desse mês, começam a acontecer encontros e ensaios em alguns dos bares do bairro, envolvendo além dos integrantes do bloco outras pessoas da comunidade.
A programação de comemoração dos 10 anos já foi definida em reuniões abertas da coordenação. Confira e participe!Fonte: Jornal Diário do Nordeste (2009)
A coordenação do bloco informa que se encontra toda quarta-feira, às 20 horas, na sede da Associação (Rua Almeida Filho, 326 - Ellery) e as reuniões são abertas para a participação dos brincantes e moradores. Mais informações com Fernando (8850.0878) ou Beethoven (8609.9021).

IGREJAS



Igreja Nossa Senhora de Lourdes

A igreja foi construída num terreno baldio que estava sendo invadido por moradores de outras áreas. Os “sem teto” pretendiam construir seus barracos ali mesmo. Porém, quando as obras começaram, os invasores foram retirados. O projeto da Prefeitura previa a criação de uma praça e uma quadra para os jovens.
O local escolhido era bem ao lado da associação comunitária. Havia inclusive rumores de que os líderes da associação teriam insuflado os “sem teto” a invadirem o terreno. No entanto, o boato nunca foi confirmado pela diretoria da entidade que, por sinal, contribuiu para que o projeto da igreja saísse do papel.
A igreja começou sua fundação pelos idos de 1989. A população se empenhou ajudando na mão de obra e na doação de materiais de construção. Embora tivesse um padre, a paróquia Senhor do Bonfim a cognominou de pastoral, isto é, “sem vida própria”.
As obras eram constantemente refeitas para dar mais conforto aos fiéis: um palco foi montado para os músicos; os afrescos atrás do altar-mor tiveram uma conotação grandiosa, elevando a imagem da santa padroeira às nuvens como se ela flutuasse no seu habitat celestial.
Com a saída do padre Djair do comando, a igreja perdeu um pouco do seu brilho. Ele era considerado um religioso trabalhador voltado para as comunidades mais carentes. Padre Djair foi assassinado três meses depois de ser transferido para a igreja de Santo Afonso, conhecida como “Igreja Redonda.

Igreja da Prece
A igreja do Evangelho Quadrangular fica localizada próxima a linha férrea, vizinha a fábrica de castanha Iracema. Construída na década de setenta, ela é uma referência para os moradores seja pelas orações, pelos cultos ou pela arquitetura modernista.

Igreja Nova Vida em Cristo
A Igreja Nova Vida em Cristo é liderada pelo Apóstolo Napoleão Oliveira. Foi fundada em 16 de dezembro de 2000. Começou com um grupo de dez participantes que se encontravam semanalmente para orar. Hoje, a congregação conta com mais de dois mil membros e seis casais de pastores. Ao longo desses anos, vem se expandindo por outros bairros de Fortaleza como Pirambu, Reino Encantado e Vila Velha. O objetivo da igreja é restaurar vidas em nome de Jesus Cristo. Quatro vezes por ano, a INVC lança a campanha Células de Aliança. As pessoas são convidadas a conhecer a palavra de Deus. No final da campanha, acontece o encontro Face a Face com Deus realizado durante três dias. A INVC fica localizada na Rua Pompeu Cavalcante, 555, Bairro Ellery, antigo galpão da Mecesa.

ESCOLAS


Escola Municipal Prof. Martins de Aguiar
Foi fundada em 11 de Novembro de 1974 como escola de tele-ensino e primeiro grau. A Escola tem 1.300 alunos, 50 professores e 30 funcionários. É aberta nos três turnos e atende a crianças e adultos matriculados nos cursos de educação infantil e ensino fundamental. Leva o nome do professor Martins de Aguiar, conhecido na comunidade pela atuação no campo da literatura e ensino, tendo inclusive publicado livros e estudos literários de grande importância.

Escola Estadual Creusa do Carmo Rocha
A escola foi fundada em 04 de março de 1976. Inicialmente criada como Centro integrado de Primeiro Grau, hoje em dia, oferece também o ensino médio. Atuando nos três turnos, fica localizada na Av. Sargento Hermínio Sampaio em frente ao Pólo de Lazer. D. Creusa do Carmo Rocha foi uma importante empresária, casada com o Jornalista Demócrito Rocha. Juntos, os dois fundaram o Jornal O POVO em 1923. Mas foi depois da morte do genro Paulo Sarasate que ela se dedicou a empresa juntamente com a filha Albanisa. Adquiriu larga experiência e tinha como ponto alto o bom relacionamento com os empregados os quais lhe destinavam carinho e dedicação.

Escola Estadual Honório Bezerra
A Escola foi fundada na gestão do Governador Virgílio Távora em 1964. O terreno foi doado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza e teve como patrono o engenheiro Honório Bezerra. Hoje, cerca de 300 alunos (do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental e do projeto Educação de Jovens e Adultos) estão matriculados na escola que conta ainda com uma cantina, sala de informática e de multimeios etc. A escola está situada na Rua Capitão Nestor Góes ao lado da praça conhecida como a do chafariz. Nos primeiros anos de sua inauguração, foi a escola do bairro mais procurada pela qualidade do ensino e boa localização. Nos anos 60, um televisor preto e branco foi colocado na escola para que os moradores pudessem assistir a novelas e outros programas televisivos da época.

PRAÇAS


PRAÇA DO CHAFARIZ
A maioria do povo do bairro Ellery sabe onde fica a Praça do Chafariz. Mas se perguntar pelo nome oficial, ninguém saberá responder. Ela se chama Praça Oscar Bezerra Filho, uma homenagem a um jovem jornalista que morreu de acidente na década de 80.
A Praça do Chafariz é famosa porque possui um enorme lençol freático de água mineral sob seu solo. Ainda hoje os moradores aproveitam o benefício para encher seus baldes e beber água potável de graça.
O poço profundo foi cavado no início da década de 70 e teve apoio de toda a população, principalmente de seu João Mota que elaborou um abaixo assinado junto com os vizinhos. Sob a supervisão de um empregado da prefeitura, o chafariz é aberto todas as manhãs, de segunda a sexta-feira.
A praça já passou por várias reformas. A última construiu uma pequena quadra de futebol de salão que serve de lazer para as crianças. A quadra não se encontra em boas condições. Há inclusive rachaduras no piso.

PRAÇA MANOEL DIAS DE MACEDO
Rico industrial e comerciante que atuava no ramo de processamento, venda e industrialização de trigo. Vendia também veículos novos e usados.

POSTO DE SAÚDE


Quem procura o posto de Saúde Paulo Melo Machado, unidade que atende moradores dos bairros Ellery, Monte Castelo e São Gerardo, quase sempre volta para casa insatisfeito e sem o atendimento desejado. Um dos problemas é a dificuldade para se conseguir uma ficha para consulta. A fila começa a ser formada a partir das 4 horas da madrugada e muitas vezes os usuários não conseguem e quando conseguem não há profissionais para fazer o atendimento.
Para a presidente do Conselho, a massoterapeuta Cacilda Carneiro Mendes, o maior problema do posto é a falta de espaço para atender a população dos três bairros. “Muitas vezes os profissionais disputam a mesma sala para as consultas e atendimentos e só vai melhorar quando ocorrer a ampliação, pois já foi até aprovada no Orçamento Participativo”.
Segundo alguns funcionários que não quiseram se identificar, as reclamações são encaminhadas à Regional I e nada é resolvido. Segundo eles, muitos usuários estão procurando outras unidades de saúde da região, principalmente o posto Carlos Ribeiro, no bairro de Jacarecanga, atrás de ajuda.
Porém, as mudanças já podem ser vistas. depois da nomeação da nova coordenadora do posto há menos de um mês. Moradora há 30 anos do bairro Ellery, Ana Sueld recebeu 20 mil reais do Município para reformar o prédio que estava sucateado. Até pouco tempo, os banheiros estavam entupidos e fechados; faltava material de limpeza; o aerossol também não funcionava por causa de defeito do compressor; a sala das enfermeiras se encontrava sem luz; e o compressor do dentista parado.
Depois de muitas reivindicações, o posto já se encontra em melhor situação. As telhas, o sistema elétrico e hidráulico foram trocados; as paredes com infiltração receberam uma nova pintura; uma rampa de acesso foi criada e a estrutura do estacionamento, melhorada. Agora, os moradores esperam a reforma da sala odontológica.
A comunidade do bairro Ellery lutou muito para ter o seu posto de saúde (só foi conseguir no ano de 92). Marilaque dos Santos, Conselheira de Saúde, está otimista com as mudanças, mas pretende não descansar enquanto todos os problemas não forem sanados. Localizado na Rua Bernardo Porto, o posto atende a mais ou menos 100 pacientes por dia funciona de segunda à sexta, horário comercial.

FÓRUM DE PEQUENAS CAUSAS


Fórum de Pequenas Causas do bairro Ellery faz uma homenagem ao desembargador Luiz Gonzaga Alves Bezerra e foi construído na década de noventa, sendo inaugurado no dia 05 de março de 1998. Fica localizado na Rua Deputado Almeida Filho, no terreno pertencente ao Estado, onde o colégio CI e o primeiro distrito policial também dividem a mesma quadra.
O Fórum de Pequenas Causas atende também a população dos bairros circunvizinhos. O serviço tenta agilizar em primeira instância questões que levariam meses ou anos para ser resolvidas nas varas da justiça. Os casos mais comuns são: brigas entre vizinhos, principalmente por demarcação de terreno; acidente de carro e aluguel atrasado. Ao contrário dos demais cartórios, o Fórum funciona sem acúmulo de processo.

DISTRITO POLICIAL


A delegacia policial foi inaugurada no dia 15 de Dezembro de 2000 e está localizada entre as ruas Raimundo Correia e Demóstenes Carvalho. É o primeiro Distrito Policial construído em Fortaleza. Embora não detenha por completo a violência do bairro Ellery, o distrito funciona todos os dias registrando aproximadamente 10 boletins de ocorrências diariamente, principalmente de pequenos furtos.

ASSOCIAÇÃO DO BAIRRO ELLERY


A Associação Comunitária do Bairro Ellery foi fundada em 04 de maio de 1986. O Brasil vivia o fim da ditadura militar, a conquista da democracia e da liberdade de organização dos brasileiros. Nesse ano, algumas lideranças do nosso bairro envolvidas na luta por melhorias para a região e pela construção da Igreja Católica do Bairro, começaram a organizar o que logo passaria a ser a Associação do Bairro Ellery.
Já em 1987, a Associação dá provas de sua capacidade e inicia a organização de várias lutas pela conquista de moradia e melhorias na infra-estrutura do bairro. Também nesse período, a Associação conquista sua sede própria e, preocupada com os destinos da cidade e do país, faz parte da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza.
A ACBE - Associação Comunitária do Bairro Ellery está inserida no cotidiano dos moradores do bairro. Através de suas lutas pela garantia da satisfação das necessidades básicas do cidadão (vida com dignidade, saúde, alimentação, participação, boas condições de moradia e meio ambiente saudável), busca a melhoria da qualidade de vida como um todo para a população do bairro Ellery.
A história da Associação Comunitária do Bairro Ellery está em sintonia com as lutas populares e, especificamente, como os anseios da comunidade local. Em nenhum momento, as atividades foram descontextualizadas do panorama político nacional e estadual, favorecendo uma interação fiel aos objetivos do movimento popular.
Sua sede própria foi construída em 1987, através de um mutirão comunitário, apoiado financeiramente pela Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza e uma Organização Não-Governamental.
Em 1991, foi fundada uma escolinha comunitária que funcionava na própria sede, atendendo 30 crianças. Infelizmente, por motivos financeiros, a escolinha precisou ser fechada em 1994. Neste mesmo ano, um posto de saúde comunitária foi construído e hoje dá assistência a centenas de famílias do bairro Ellery e vizinhos.
No ano seguinte, em 1992, a associação emplacou mais uma luta e realizou o sonho de muitas mães com a construção de uma creche comunitária, apoiada pela Febemce. Após passar por uma ampliação, a creche atende, hoje, cerca de 120 crianças, em sua maioria filhos de mulheres operárias de indústrias de beneficiamento de castanha. A creche é dirigida e administrada pela associação desde sua fundação. Também neste período, a associação participou de movimentos que visavam resgatar a cidadania do povo cearense, como o movimento contra a pensão vitalícia para ex-governadores e o movimento Fora Collor.
Em 93, foi promovido um Curso de Alfabetização para Adultos através do método Paulo Freire. A Farmácia Viva que fabrica e comercializa a baixo preço medicamentos naturais, orientado pelo CEMAC (Centro de Medicina Alternativa - Canindé), também foi conseguida neste ano.
Desde o ano de 1995, mais projetos estão sendo executados pela associação. O Projeto “Mais uma Criança” funcionou durante todo o ano de 95 e assistiu 100 crianças, comprovadamente carentes, com uma refeição diária. O apoio foi do Comitê de Cidadania dos Funcionários do Banco do Brasil. Em abril de 95 foi implantado o Centro de Abastecimento Popular, uma espécie de cooperativa de alimentos que vende cestas básicas à preço de custo para a comunidade, financiada pela ONG “Action Nord Sul”. E desde abril de 95 funciona um Projeto de Reforço Escolar que assiste 40 jovens, ajudando-os a melhorar o desempenho escolar.
A principal luta da ACBE desde sua fundação foi pela moradia. Isso fez com que a comunidade se organizasse, juntamente com a associação, para a reivindicação da construção de casas populares. Este objetivo foi conseguido com a edificação de um conjunto habitacional para 230 famílias.
Essa viagem pela história da ACBE mostra que o movimento popular organizado pode ter uma função importante na comunidade, na construção da cidadania. Acreditar nessa organização é fundamental para que os interesses do povo possam ser atendidos e discutidos. Hoje, a diretoria atual da Associação Comunitária do Bairro Ellery conta com quinze membros e tem como presidente a comerciaria Ioneide Melo, moradora do Ellery há mais de trinta anos e que se destacou no movimento em defesa das famílias da vila Pompeu, que lutam pela moradia e pelos direitos trabalhistas negados pela empresa Tomaz Pompeu.
A líder comunitária também teve ativa militância nas Comunidades Eclesiais de Bases (Ceb´s) e na Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), da Igreja Católica. Para Ioneide, que também integra o quadro de sócias do Centro Socorro Abreu de Apoio a Mulher, um dos maiores desafios da associação é aproximar mais os moradores das entidades e criar novos mecanismos de participação.

Diretoria Executiva
Presidente: Ioneide Melo
Vice-presidente: Fernando Barbosa
Tesoureiro: Antonio Soares
2o Tesoureiro: Aguinaldo Aguiar
Secretária: Clarice Costa
2o Secretário: Wescley Sacramento

Suplentes da Diretoria
Francileuda Rodrigues
Beethoven Rodrigues
Vilaci Torres

Conselho Fiscal
Maria do Carmo (Carminha)
Carlos José Barreto
Eliane Moura (Carioca)

Suplentes do Conselho Fiscal
Silvia Rejane Costa
Tarcisia Nunes
Marcos Antonio Gomes