terça-feira, 30 de março de 2010

FINAL DOS ANOS 40


O loteamento Parque Themóteo dá origem as duas principais ruas da então Vila Ellery: as ruas Major Veríssimo e Gilberto Câmara. Nas proximidades da Av. Sargento Hermínio, na época apenas uma vereda que ligava os bairros Monte Castelo, Cachoeirinha e Monte Picu, hoje Presidente Kennedy, passando nas Quatro Bocas, hoje Olavo Bilac, as famílias começavam a fixar residência, aí também havia a Hospedaria Getúlio Vargas, construída para atender aos retirantes que chegavam do interior do estado fugindo da seca, mas acabou servindo mesmo para alojar os desabrigados das cheias da época.
O açude João Lopes era represado na, hoje, Av. Sargento Hermínio nas terras de Odete Pacheco, próximo ao forno crematório (hoje garagem da Expresso Guanabara), onde se colocava o lixo coletado em Fortaleza, um açude que transbordava alagando os bairros Monte Castelo, Floresta, Brasil Oiticica (parte do Jacarecanga) e adjacências. Nesta década, e em outras depois, o açude serviu de lazer para as pessoas da região, para banhos, pescaria em anzol e landuá, e para as lavagens de roupa realizadas pelas “lavadeiras das cacimbas do João Lopes”, que deixavam as roupas estendidas às margens do açude, sem preocupação de que fossem roubadas, a água do açude era límpida servindo para o consumo das pessoas.
As ruas do bairro, hoje asfaltadas, eram veredas, muitas em meio ao mato, numa paisagem com muitos cajueiros, azeitoneiras e pitombeiras. Nesta época as terras da região estavam nas mãos de poucos proprietários: no sentido oeste para leste havia primeiro as terras da família Ellery, que deram nome à “vila” anterior ao bairro, e ao próprio bairro, seguidas pelas terras de Odete Pacheco, e pelas terras de Juvenal de Carvalho, proprietário da Maternidade Juvenal de Carvalho, próximo à av. Bezerra de Menezes.

1946 - O açude João Lopes arromba, levando prejuízo aos moradores da região. Notícia do jornal O POVO de 3 de maio de 1948 dizia que na Vila Santa Maria (próximo ao bairro Monte Castelo) ‘‘nada menos que 200 casas foram inundadas entrando pelos quintais e saindo pela porta da rua a água levada de roldão, encaixerando galinhas, gatos, cachorros, porcos e outros animais domésticos.’’. Isto numa manhã em que Fortaleza amanheceu inundada: “Famílias inteiras’’ saíam de casa procurando lugares mais elevados. ‘‘Grupos de pessoas com enxadas, latas, vasilhames, pás, etc., a abrirem regos para dar vazão a água.’’.
1949 - 200 soldados do Exército foram acionados nos primeiros socorros das vítimas das inundações provocadas pelo açude João Lopes, ''talvez tenha sido a maior chuva caída em Fortaleza nos últimos dez anos'', anunciava O POVO em 6 de maio de 1949 sobre a tempestade iniciada na noite anterior. Foi chamada de minidilúvio. Da rua Governador Sampaio à Prainha do Arraial Moura Brasil, passando pela Barra do Ceará, Pici, Parque Bela Vista e São João Tauape, ''as águas invadiram tudo''. Na tragédia, ruas alagadas, casas em ruínas e centenas de famílias desabrigadas. Abrigadas, aliás, pela hospedaria Getúlio Vargas - por ironia, um lugar mantido pelo Estado para acolher os que fugiam da seca.

''As ruas centrais não escaparam, todas elas, principalmente a Major Facundo eram vertiginosas correntezas (...). (No parque das Crianças), grupos de moças e rapazes, tripulando duas canoas, remavam por entre os bancos e canteiros dos jardins''.
O jornal apresentava dois índices pluviométricos diferentes para aquela data. Ainda na manchete, a informação: ''até as 10 horas de hoje choveu em Fortaleza 270 mm''. O que se igualaria ao volume da chamada ''chuva do século'', no ano de 1997. No texto, outro dado é divulgado: ''Segundo o Pluviômetro do Serviço de Meteorologia choveu 250 mm''.

Um comentário:

  1. Para mim, a data de início do nome Vila Ellery é começo da década de 50, quando meu tio Humberto Ellery construiu uma casa no sítio de propriedade da minha avó (Creuza, viúva de Henrique Ellery). A Light não chegava lá, nem linha de ônibus. A estrada era de terra. Logo depois, foi criada uma linha de ônibus Vila Ellery (não sei se meu tio teve alguma participação nisso), e só então a região passou a ter esse nome.
    Sou engenheiro, moro no Rio de Janeiro. Na época, tinha 8 anos, mas essas coisas ficaram na minha memória, inclusive o matadouro que fica vizinho à casa do meu tio, cujas atividades ficávamos observando de cima do muro, quando íamos lá.
    Sergio Ellery Girão Barroso segbar@uol.com.br

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